Tem apenas 25 anos e para trás deixou mais de 10 ligados ao hóquei em patins. Falamos de Ana Gomes, que deixou a modalidade para abraçar o seu futuro, que já vive no presente: a medicina… mas com alguma mágoa.
Antes ainda de terminar a primeira fase do Campeonato, Ana Gomes, que esta temporada aceitou o convite do Gulpilhares, optou por pôr um ponto final na carreira. “Foi um decisão muito difícil. Não pensei que fosse tão difícil conciliar o hóquei com a minha actividade profissional, mas era”, disse ao ND a jogadora.Mas outros motivos que contribuíram para Ana Gomes antecipar a despedida, que tinha previsto para o final da época corrente, como confessa: “Quando recebi o convite do Gulpilhares, e já sabia que este ano ia ser complicadíssimo, aceitei-o, pelas condições que me foram proporcionadas. Mas a verdade é que isso acabou por não acontecer, sobretudo, porque não foi com o treinador [Jorge Lopes], que falei. Isso precipitou a minha saída e abandono”.Sem querer especificar, e numa altura em que se encontra a estagiar em medicina – o que implica “banco, urgências e noites” – Ana Gomes assume que “há muita gente que anda no hóquei mas não sabe valorizar a modalidade” e muito “menos as atletas”. Uma tristeza que nem as palavras disfarçam: “Pensei que havia mais interesse e que dessem mais valor e que não fosse apenas «mais uma jogadora», no mínimo, pelo momento que atravessava, um dos melhores de sempre, e depois de tudo o que dei ao hóquei. Merecia mais, incluindo consideração. Mas isso não acontece só comigo e sim com muitas hoquistas, que infelizmente, não assumem um patamar tão elevado como o meu, porque não tiveram quem nelas apostasse em detrimento, sem desvaloriza ninguém, de estrangeiras”.A ex-jogadora do Centro Desportivo da Nortecoope adianta ainda que “estava decidida a sacrificar-se pelo hóquei”, mesmo “tendo um exame decisivo este ano”, que “ditará em definitivo o futuro”. Mas depois de muito ponderada, chegou à conclusão que “não justificava”, sobretudo, porque, tal como a própria diz “não valia a pena estar a pôr em causa o meu futuro”.Por fim, e sem perder, em momento algum, a serenidade, a futura médica faz um apelo: “Valorizem e conservem as mulheres que se dedicam com tanta paixão ao hóquei. Não o façam só quando somos precisas, nem levem mais ninguém ao colo”.
É riquíssimo o historial de Ana Gomes na modalidade e não só ao serviço dos quatro clubes que representou. Desde cedo que as suas capacidades técnico e tácticas espoletaram as atenções dos seleccionadores nacionais, por isso, não foi de estranhar, que um ano depois de ser federada pela primeira vez, a jogadora tenha sido chamada ao estágio de observação a nível regional. Tinha apenas 17 anos e “foi um orgulho e uma emoção inesquecíveis”, confessa, recordando ainda que “subiu degrau a degrau até chegar à Selecção Nacional [1997] e à braçadeira de «capitã»”. Para trás fica um currículo quase invejável e um desejo que não pôde cumprir: “Ser campeã do Mundo. Faltou-me esse título, depois de tantas vezes termos estado tão perto. Não escondo, que não me ter despedido me custa, mas mais do que isso, é complicado gerir este abandono sem esse título, o único que me falta no currículo”.Aliás, foi ao serviço da turma das «quinas«, que Ana Gomes foi distinguida com a medalha de mérito desportivo, depois de ter conquistado o título de campeã da Europa, em 1999, na Alemanha. Um feito que recorda, “não tanto pela medalha, mas pelo feito conseguido”. Isso é que a “fez feliz a valer”, sobretudo depois de Portugal ter derrotada a rival espanhola, por 1-0, através de uma grande penalidade.
PERCURSO
Tinha apenas 15 anos quando se iniciou no hóquei e nessa altura vestiu a camisola da Académica de Espinho. Nascida e 17 de Dezembro, de 1979, Ana Gomes rumou aos Carvalhos, na época seguinte, e logo com a experiência de lutar pelo título. Mas o seu valor era acompanhado por muitos e rumou à Maia, onde representou a Nortecoope até ao final da época anterior. Ganhou tudo o que havia para ganhar em termos nacionais e hoje “um pouco que acompanha é apenas pelos jornais”.
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