quarta-feira, maio 18, 2005

Hóquei em Patins do Sporting em risco

SOS Sporting

As portas podem fechar em Alvalade. Os jogadores não recebem há seis meses e pagam do seu bolso para treinar e jogar. Quando faltam oito jornadas para o fim da época, o treinador Pedro Trindade admite o pior cenário, isto enquanto se assiste a um longo silêncio por parte dos dirigentes máximos do clube

Os jogadores do Sporting continuam sem receber e os ordenados em atraso no clube já se arrastam há seis meses, sem reacção dos responsáveis máximos do clube. O treinador Pedro Trindade, que substituiu Miguel Bento após ter sido denunciada publicamente a crise financeira, alertou para o facto de as portas poderem fechar mesmo antes do fim da época em curso: "Os jogadores estão há seis meses sem receber, estão a pagar do seu bolso para poderem continuar a treinar e representar o clube, há jogadores que já não conseguem cumprir o plano semanal de treinos, pelas despesas de deslocação que acarreta. Corremos o risco de não haver condições para concluir a actual época desportiva".

Segundo Pedro Trindade, o clube transmitiu aos jogadores que "está na disposição de manter o hóquei, desde que uma empresa queira patrocinar". Na última reunião, entre jogadores e representantes da SAD leonina, foi dada a garantia de que o clube tudo faria para regularizar as contas, mas Pedro Trindade disse a O JOGO que, na passada segunda-feira, "Gilberto Borges [dirigente da secção], que tem suportado as despesas de funcionamento da equipa e pago do seu bolso as dívidas existentes, nomeadamente o aluguer do Pavilhão da Parede, comunicou que não conseguiu os apoios que julgava serem possíveis".

Com o futuro incerto, o Sporting luta neste momento pela manutenção no Nacional da I Divisão, ocupando o quarto posto no Grupo B. A oito jornadas do fim da temporada, o Sporting encontra-se no último lugar que garante a permanência no campeonato principal da modalidade. Mesmo podendo ficar na I Divisão, Pedro Trindade admite: "Mesmo que haja sucesso, o futuro não está salvaguardado, correndo-se o risco do Sporting não ter equipa sénior na próxima época".
O hóquei leonino vive, assim, dias dramáticos, depois de ter conquistado sete títulos nacionais, quatro Taças de Portugal, três Taças das Taças, uma Taça CERS, além do título europeu, conquistado em 1977.

Paulo Almeida: "As coisas estão muito graves. Sinceramente com o passado que o Sporting teve na modalidade, e face a este momento, custa-me que o clube não pegue nisto e custa-me o estranho silêncio do clube. Somos profissionais, pais de família com filhos e estamos a passar mal. O engenheiro Gilberto Borges já nos disse que o dinheiro só dá até ao fim do mês. Organizar um jogo em casa custa 750 euros e nós nem sabemos se vamos poder jogar em casa daqui a umas jornadas"

Filipe Gaidão: "Preocupa-me o presente, porque com a actual situação não haverá futuro. Não há nada que se veja que possa apontar para a resolução do problema. Os jogadores estão saturados, até porque não há ninguém que queira salvar o Sporting e os únicos desgraçados somos nós. Vive-se já com dificuldade e há quem até já tenha a casa à venda e empréstimos em atraso"

PAULA CAPELA MARTINS, in O Jogo

Sporting pode parar neste mês

A situação vivida no seio da equipa sénior do Sporting agravou-se. Numa reunião realizada na segunda-feira entre o único dirigente que tem lutado para a sobrevivência do projecto, Gilberto Borges, e o plantel leonino, foi comunicado que as verbas existentes para as despesas correntes da secção estão esgotadas. Aliás, tem sido o próprio Gilberto Borges a despender do seu bolso o dinheiro para as deslocações.
No encontro com os jogadores, o dirigente leonino anunciou que todas as tentativas para encontrar patrocinadores falharam. “Esta é uma altura muito má. Todas as empresas já têm os seus orçamentos para este ano definidos. Neste último mês não consegui os apoios que esperava angariar. Nesta modalidade, assim como nas restantes consideradas amadoras, há cada vez menos gente interessada em ajudar. Tem sido um grande esforço pessoal. Não vou desistir e vou continuar a lutar para encontrar soluções mas nesta altura não posso fazer mais”, disse-nos Gilberto Borges.
Este dirigente, recorde-se, está ligado à formação do Sporting mas, a pedido dos jogadores, decidiu colaborar com a equipa sénior depois da saída do ex-técnico e director da secção, Miguel Bento.

O estado psicológico dos atletas encontra-se muito por baixo. Há jogadores que só participam em dois treinos por semana, por não terem condições para viajar diariamente para a Parede, local onde treinam e jogam.
“Isto está dramático. Gilberto Borges era a nossa esperança. Bateu em várias portas e todas se fecharam. Tem feito tudo para nos ajudar mas, agora, só aguenta até ao final do mês. Estamos com seis meses de atraso e não vemos soluções. Assim, corremos o risco de nem sequer marcar presença na próxima jornada fora de casa”, referiu o internacional e campeão do Mundo, Paulo Almeida.
Refira-se que o Sporting recebe, nas duas próximas rondas do Grupo B do Nacional da I Divisão, Sp. Espinho e Cambra, deslocando-se, no dia 28 deste mês, a Porto Santo.

O projecto do hóquei em patins do Sporting é independente do clube. A direcção do clube de Alvalade apenas disponibiliza apoio na cedência das carrinhas para as deslocações ao Norte do País, para os jogos do Nacional da I Divisão e apoio médico aos atletas. Todas a restantes despesas de gestão desportiva são da responsabilidade da secção, incluindo o aluguer do pavilhão da Parede, local onde efectuam os treinos e os respectivos jogos. Recorde-se que o Sporting esteve durante um período impedido de utilizar o recinto por incumprimento do acordo estabelecido com o clube da Parede.

O Sporting é das equipas portuguesas mais galardoadas ao nível da modalidade. Internamente, a equipa leonina soma sete títulos nacionais e quatro Taças de Portugal. A nível internacional, o Sporting venceu uma Taça dos Campeões europeus, três Taças das Taças e uma CERS.

O treinador Pedro Trindade está há um mês no Sporting e debate-se com os problemas que afligem os seus jogadores. “A minha situação como treinador está dependente da disponibilidade dos atletas, uma vez que não posso contar com todos nos treinos. É fácil perceber o que sentem ao ver as expectativas gorarem-se e constatarem que as soluções não aparecem. Tenho um plantel com valor para nos mantermos na I Divisão mas corremos o risco de não terminar a actual época desportiva devido às despesas da secção”, afirmou o técnico leonino Pedro Trindade.

VÍTOR VENTURA, in Record

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