"De certa forma, estranhei não ter recebido convites de Portugal "
José Querido abandonou o cargo de seleccionador nacional porque o seu projecto não estava a ser apoiado. Em Espanha o barcelense tem feito um trabalho notável ao ponto de estar a ser “seduzido” pelo Liceo da Corunha que quer apostar forte no futuro com Querido ao leme.
Quais foram as principais razões que o levaram a sair da selecção nacional?
Derivado a questões que eu assumo que eram importantes. Gostaria que as pessoas entendessem de uma vez por todas que tínhamos que fazer algo pela modalidade e que teríamos que optar por outro tipo de projectos e as coisas não foram entendidas assim. Penso que também derivado a muitos problemas financeiros que a federação diz que tem. Não bati com a porta mas chegamos a um consenso. Já que não havia a possibilidade de levarmos em frente o meu projecto, decidimos interromper a nosso ligação. Acho que tinha passado o meu momento. Nos projectos em que assumo envolvo-me a cem por cento, e numa perspectiva de futuro. É pena que a Federação não pense assim. Orientam-se única e exclusivamente nos dias em que as provas que realizam.
Acredita que se fosse treinador de uma equipa portuguesa ainda seria seleccionador nacional?
Penso que seria igual. Mesmo que estivesse em Portugal faria rigorosamente a mesma coisa. Defenderia sempre o meu projecto até ao fim. Sentiu muita pressão desde que assumiu o cargo? A partir do momento em que fui escolhido aconteceram muitas pressões, e não sei porque. Tenho demonstrado ao longo da carreira ser o mais frontal possível. Nunca admito pressões para escolher determinados jogadores. Levei sempre os que me davam as melhores garantas. Quando escolhi os dez para o Mundial acusaram-me de ser o Padrinho de alguns atletas. Fui criticado por não levar alguns jogadores do Benfica e o do Porto. Afinal tinha razão quando levei o Tó Silva. Tem sido ao longo das últimas épocas o melhor marcador nacional e acaba de ser contratado pelo Benfica.
Qual é a opinião que tem sobre o seu sucessor?
O Paulo Batista tem a mesma mentalidade que eu. Só tive ainda a oportunidade de lhe desejar as maiores felicidades. Tem valor, e conhecedor do Hóquei nacional e de todos os seus praticantes. Estou convencido que tem todas as condições para ganhar. Tudo depende se vai ou não conseguir aplicar o seu projecto. Espero bem que a Federação lhe proporcione todas as condições.
Nunca o Villanova foi tão falado como nos últimos tempos. Foi uma aposta ganha?
Foi uma aposta muito perigosa. Houve muita gente que me dizia para ter cuidado porque tinha um nome a defender. Tive a felicidade, e modéstia à parte valor para dizer nesta altura que o projecto Villanova foi uma aposta ganha. Consegui levar o clube às competições europeias, chegamos à final contra o Barcelona, e mesmo a nível interno voltamos a cimentar a nossa posição nos cinco primeiros. Villanova mobilizou-se em torno do Hóquei em patins. Consegui reestruturar um clube que passava por uma fase de muita desorganização. Fizemos uma boa equipa de trabalho, e senti-me sempre muito apoiado. Estou orgulhoso de um português ter saído com sucesso no estrangeiro. Só agradeço a todos os que me ajudaram em Villanova.
Está a querer dizer que o seu ciclo em Villanova chegou ao fim?
Sim. Apesar do interesse do clube em fiar comigo, saio por questões familiares. Existe um clube em Espanha que me proporciona levar a minha família, e um projecto muito interessante e com uma perspectiva de futuro.
Liceo da Corunha?
O meu futuro deverá passar pelo Liceo da Corunha. A proposta é de dois anos mais um. É um clube grande do Hóquei europeu. O projecto é bastante entusiasmante. Sou ambicioso gosto de ganhar e o Corunha proporciona-me isso. O primeiro ano deve ser de transição, e na época 2007/2008 aí sim a aposta será muito forte.
Estranha não ter surgido convites de Portugal?
De certa forma sim. A minha prioridade será treinar em Portugal. Fui para Espanha por acidente. É em Portugal que gostaria de estar. Apareceu-me uma situação em Dezembro, mas não foi possível aceitar.
Considera-se um treinador para um lote de quatro ou cinco equipas?
Especula-se muito à volta disso. Dizem que o José Querido é um treinador caro. A única coisa que sei é que muitos treinadores em Portugal ganham mais do que eu, agora analisem. Agora, tenho o meu valor e tenho-o que defender. Desde que a proposta for digna e ambiciosa, sou treinador para qualquer equipa.
O Hóquei em patins está a perder visibilidade a projecção que tinha antigamente. Concorda?
A nossa modalidade não soube gerir o sucesso. Os próprios dirigentes acomodaram-se muito. Deixem ir para lá quem tem força e vontade de trabalhar. Outras modalidades têm tirado mais rentabilidade em todos os aspectos. Os pavilhões têm cada vez menos gentes, e é preciso rever muita coisa na modalidade que mais títulos deram ao nosso Pais.
Como é que estão as suas relações com o OC Barcelos?
Os dirigentes passam e o clube fica. O OC Barcelos é o clube do meu coração. O Barcelos tem feito uma temporada excelente. O Vítor Silva tem feito um trabalho muito bom. Espero que continue a ser apoiado para realizar o trabalho que está a fazer. Tem sido um técnico que cria um plantel sem vedetas e que todos têm que lutar para conquistarem um lugar na equipa.
In Cávado Jornal
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