Paulo Batista, que deixou o comando da equipa de hóquei em patins do Portosantense, confidencia incompatibilidades antigas
Chegou ao Porto Santo com um projecto para quatro anos. Ano e meio mais tarde, Paulo Batista e a direcção da SAD acordam a rescisão por mútuo acordo. Uma situação que era previsível e de certa forma já aguardada pelo técnico, face aos recentes acontecimentos. A reportagem vinda a público, no DIÁRIO, e que expôs toda a situação vivida no interior da SAD, acelerou somente um processo quase irreversível. Na hora do adeus, Paulo Batista, confirmou que, de facto, havia divergências, que não são de agora, mas sim desde o momento em que chegou ao Porto Santo. Não sai magoado, porque foi uma experiência gratificante, mas sim desiludido, porque não encontrou na SAD as respostas adequadas às exigências de um projecto ambicioso. O diálogo na hora da despedida:
– Chegou com um projecto ambicioso ao Porto Santo, mas agora interrompido. O que correu mal na sua óptica?
– Foram vários os aspectos que correram mal. Mais concretamente no que diz respeito a toda a gestão nas suas multifacetas, que tem de suportar um projecto desportivo profissional. Mas como estas são questões que dizem respeito a ambas as partes, eu não vou aqui especificar.
– As notícias vindas a público que davam conta do mal-estar instalado entre si e a direcção, poderão ter precipitado este desfecho?
– Não, porque toda esta situação começa muito antes da célebre reportagem. Inclusivamente, as situações de divergências começaram logo após a minha chegada ao Porto Santo. Dadas as diversas incompatibilidades com que me deparei, houve aspectos em que fomos divergentes, pese embora o esforço de ambas as partes em tentar resolver as situações que se nos foram deparando. Como não conseguimos, acho que este desfecho é o corolário lógico face à evolução dos acontecimentos.
– Dado isso, este desfecho não era de todo inesperado...
– Não. Pelo contrário. Sempre tive a consciência que mais tarde ou mais cedo isto pudesse acontecer. Já que o tipo de respostas dadas pela SAD e o tipo de soluções apresentadas às exigências que se impunham num projecto deste nível foram insuficientes, não esperava outro desfecho. Era uma questão de tempo.
– Na exposição avançada pela SAD, no ponto 2 do referido comunicado, fala de divergências de projecto. O que mudou?
– Como referi acima, foram várias questões que se arrastam há muito tempo e assentam sobretudo na gestão, quer dos espaços, quer do plantel... Enfim, não gostaria de me alongar mais.
– A rescisão do contrato, partiu de si, ou da SAD?
– Foi consensual.
– Chegou-se a comentar que o grupo não estava unido, daí os maus resultados. Isso confirma-se?
– Não. Não se confirma. Aliás, devo dizer a esse respeito, que foi extremamente gratificante para mim ter um grupo de jogadores que perceberam que a equipa tinha de ser maior que a soma de ambas as partes. Ao contrário das mais pessimistas deduções, conseguiu-se criar um clima muito agradável de trabalho. Cheguei mesmo a referir a vários elementos da direcção da SAD que em termos de grupo e relacionamento entre as pessoas o ano passado tínhamos sido campeões nacionais. Este ano, as coisas não se verificaram da mesma maneira, mas isso não significa que os maus resultados ou a instabilidade actual seja adjacente desse factor.
– Falou-se que algumas das críticas que terá tecido a alguns jogadores pesaram para esse mal-estar; concorda?
– Não, não concordo, porque a minha actividade como treinador passa muito pela avaliação que faço da prestação dos jogadores que trabalham comigo, numa base que incide na melhoria das capacidades individuais de cada um, o que por vezes se supõe ser uma crítica, mas numa base técnica. Mas isso é a função do treinador e leva a que, muitas vezes, tenha de haver confronto para que não restem dúvidas. Por isso, acho que essa tese não é válida, nem acho que afectou o rendimento da equipa, nem foi geradora de mal-estar. Pelo contrário, foi gratificante, para mim, ouvir de alguns jogadores que evoluíram bastante. Está aqui a resposta e a melhor recompensa que um treinador pode ter.
Cumprir acordo...
Paulo Batista tinha contrato por mais dois anos e meio com o Portosantense SAD. Dado estarem envolvidas verbas consideráveis, esta saída poderá ser considerada benéfica para o treinador? Batista responde, com algumas reticências: «Penso que o que ficou acertado satisfaz ambas as partes. Agora, tudo vai depender do cumprimento do que ficou acordado. Quanto a isso, vamos aguardar».
De qualquer modo, a saída está acertada e resta, então, saber que futuro está reservado ao treinador que antes deixara o Paço d’Arcos para ingressar no clube da Ilha Dourada. «Para já, o que posso dizer é que vou reflectir bastante e reanalisar os vários aspectos que falharam, tanto da minha parte, como do projecto» começa por anunciar para depois reconhecer: « Quanto a propostas de trabalho ainda não as tenho, mas isso não me preocupa para já. Primeiro quero analisar o que foi feito, de forma a engrandecer ainda mais a minha conduta como profissional e só depois me preocuparei com isso».
É, portanto, um treinador que continua confiante nas suas capacidades que diz "adeus"
à Ilha Dourada. Pronto a reflectir antes de iniciar um novo projecto no hóquei em patins.
Se voltasse atrás...
Paulo Batista reconhece que se pudesse voltar atrás, teria tomado outras atitudes, tido outro tipo de opções. «A realidade em que nos inserimos está constantemente a mudar. Aquilo que é uma solução adequada hoje para determinadas circunstâncias, para amanhã já não é adequada», acentua, admitindo que «a beleza e o próprio atractivo para um treinador, tem exactamente a ver com a resposta a essa exigência de adaptação constante». Daí que o já ex-técnico do Portosantense SAD reconheça que se pudesse voltar atrás «as coisas iriam ser diferentes nos vários capítulos, nomeadamente na questão da estratégia adoptada, ao nível planeamento da equipa, na tomada de decisões, etc.».
Quando questionado se sai desiludido do Porto Santo, Batista responde: «Projectos destes fazem falta ao hóquei em patins e a minha opção em vir para a ilha foi por um projecto diferente daquele que é levado a cabo por um clube normal de hóquei em patins. Quanto a isso sinto-me desiludido. Enchi-me de ilusão e de ganas e, afinal, enganei-me. Mas isso não significa que não continue a achar que este é um projecto necessário e válido. Para que se distinga dos restantes que existem, há, no entanto, na minha opinião, que proceder a várias correcções».
Fonte: Diário de Notícias da Madeira, Edição de 11 de Janeiro de 2005
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